quinta-feira, 5 de maio de 2011

Diferencial do ensino espírita para crianças

Rita Foelker
 
Para atingir seu objetivo de transformação das almas, a Educação Espírita carece de metodologia apropriada.
Um dos grandes equívocos, comuns nas atividades de Evangelização e Educação Espírita promovidas pelos centros, é não observar-se a metodologia espírita ao se abordar conteúdos espíritas.
O Espiritismo é uma doutrina de apelo a razão, uma visão de mundo e de vida baseada numa filosofia racional, cujas conseqüências podem ser experimentadas e comprovadas. Esta experimentação inclui observações que podem ser feitas em eventos externos, mas também sentidas e rememoradas intimamente, quando o que a Doutrina ensina confirma aquilo que já vimos ou vivemos.
O ensino e aprendizagem do Espiritismo para crianças é diferente do ensino e aprendizagem religiosos. Não se trata de aprender normas, preceitos e interpretações de textos, mas de incorporar uma visão de si mesmo e do significado da vida, que lhes permita o discernimento necessário às diversas situações com que se deparam.
O ensino religioso costuma ser impositivo, ou seja, pede aceitação de verdades compartilhadas pelo grupo, sem possibilidade de reflexão ou contestação. Aprende-se, por exemplo, que é preciso cumprir determinado rito para pertencer ao rol dos filhos de Deus, e tal fato não oferece opção a não ser de concordância, se se pretende pertencer aos quadros de seus adeptos.
Ao contrário, não se espera que a criança espírita aprenda a crer em Deus ou na imortalidade porque o Espiritismo assim ensina, mas porque refletiu, confrontou com a lógica e os fatos, sentiu em seu coração e reconheceu em sua própria experiência a impossibilidade de que assim não seja, assimilando este conceito à sua visão da vida.
Por isso, o ensino espírita vai muito além daquilo que o educador possa compartilhar verbalmente como conhecimento seu, mas pede criação de estratégias e oportunidades onde cada educando levante suas próprias hipóteses, questione tire suas próprias conclusões.
Por isso, o ensino espírita pede fatos do mundo, da ciência e da sociedade que demonstrem a universalidade das leis que a Doutrina Espírita vem revelar. Não se pode proporcionar de fato a compreensão e a possibilidade de vivência do Espiritismo, quando ele aparece distante ou divorciado da realidade que ele mesmo leva a compreender, e com a qual também ajuda a lidar.
O ensino espírita visa o esclarecimento espiritual, e não a disseminação desta ou daquela visão religiosa ou prática devocional. Este esclarecimento se dá a partir da observação e experimentação individual e coletiva, da reflexão e interiorização de princípios cuja veracidade se é capaz de compreender por si mesmo, sempre na medida do desenvolvimento intelectual e moral.
 

Diferencial do Ensino Espírita para Crianças II

Rita Foelker


A Educação Espírita precisa trabalhar para desenvolver o Ser humano integral, o qual se transforma, como conseqüência, num melhor participante da Humanidade e num cidadão melhor. O ponto de partida para o ensino espírita é a consciência de que não se pretende, com ele, aumentar o grupo das pessoas que comungam nas mesmas crenças, mas proporcionar a cada criatura a chance de se autoconhecer e de aprimorar razão e sentimento em benefício da própria harmonia interior. Aí começa a diferença entre Educação Espírita e Educação religiosa, que vai se refletir na escolha da metodologia, nos recursos didáticos, na própria maneira de entender a função do educador e dos alunos e no seu relacionamento de grupo.
A Educação Espírita não tem cunho religioso, mas filosófico, assim como a própria Doutrina Espírita, mesmo possuindo inevitáveis conotações morais ou religiosas. O ensino tem cunho filosófico porque parte de questionamentos e hipóteses com as quais trabalhamos, buscando raciocínios e argumentos científicos que lhes dêem sustentação, para extrair conseqüências no campo moral, nas nossas atitudes perante Deus, perante nós mesmos e perante o próximo.
Para que isto possa acontecer adotamos, em nossos cursos, orientação para que se observem cinco diretrizes:
1. Trabalho focado sempre no autoconhecimento e conhecimento de Deus (leis e atributos), qualquer que seja o assunto abordado;
2. Permissão para que a criança se expresse;
3. Abordagem prática e objetiva dos temas;
4. Equilíbrio entre conteúdos intelectuais, emocionais e sociais;
5. Respeito às fases do desenvolvimento físico, mental e emocional da criança.

Tomemos o item nº 1 de nossa orientação metodológica: Trabalho focado sempre no autoconhecimento e conhecimento de Deus (leis e atributos), qualquer que seja o assunto abordado.
Se este objetivo está claro para todos, inúmeras estratégias poderão ser empregadas para chegar até ele. Podemos montar qualquer plano, desde que nele encontremos maneiras eficientes de levar ao autoconhecimento e ao conhecimento de Deus, que são requisitos fundamentais de nossas mudanças de atitude.
O fato de sermos Espíritos imortais, por exemplo, é básico para a compreensão de toda a visão espírita da realidade. Está dentro do tópico do autoconhecimento. Agora: quais os desdobramentos deste assunto naquele grupo específico? Qual é a zona de maior interesse, dentro do tema "Espírito" e do tema "imortalidade"? Até onde vamos aprofundar nossa abordagem? Isto vai depender de terem 4, 6, 8, 10, 12 ou 14 anos; de serem provenientes de famílias espíritas ou não; de terem acesso a leituras e a conversas da família... enfim, de uma série de fatores.
Todos nós temos conceitos de conduta e de Deus dentro de nós, adquiridos nesta ou noutras vidas. A verdade é que passamos os séculos construindo nossa compreensão das coisas. E quando falamos em construir, é pouco a pouco, 'bloquinho por bloquinho", como se erguêssemos uma parede fileira por fileira.
Cada grupo de trabalho tem um processo de construção e uma maturidade própria para lidar com estas questões. Tanto os educandos, quanto os educadores. E isto sempre influenciará na prática pedagógica.
Ninguém começa a construir uma casa pelo telhado, porque falta a estrutura para sustentá-lo. Passar conceituações prontas, freqüentemente, é como querer colocar telhado sobre paredes que não existem. De acordo com a nossa experiência, há muito mais resultado quando, a partir de uma introdução inicial e uma avaliação do entendimento que a turma já possui, criamos um espaço de aprendizagem abrindo a possibilidade de novas hipóteses, de dialogar, de trocar idéias ou pesquisar. Ao final, a produção de um texto, ou de um painel, ou encenação nos mostrarão o nível de entendimento atingido. É aí que iniciaremos, no próximo encontro sobre este tema.
Por todas estas peculiaridades do trabalho educacional, é que entendemos que uma tarefa tão importante não pode ser desempenhada apenas à base do empirismo e da boa vontade, o que leva muitas casas a viverem uma condição em que os educadores se assemelham mais a babás ou recreadores. Afinal, quando nos dispomos a um trabalho, usamos o que sabemos, e muitos meninos e meninas que atuam na Evangelização só têm a possibilidade de interagir com crianças na posição de irmãos mais velhos, porque é a única experiência que têm.
Cabe à casa espírita proporcionar capacitação. Há tantos cursos, oficinas, seminários onde se podem inscrever os educadores de uma casa, incentivando a sua participação...!

Mas cabe principalmente ao próprio educador buscar conhecimento, querer aprimorar-se, interessar-se em saber mais sobre psicologia infantil, pedagogia, metodologia e sobre a própria Doutrina, não para se tornar um doutor nestes assuntos, mas para desenvolver uma prática mais segura e mais condizente com os objetivos educacionais de uma casa espírita.
O próprio educador é o seu melhor instrumento de trabalho. Não adianta ter local perfeito, excelente material didático, apoio dos dirigentes da casa, se na hora de agir, não sabe como ou não se sente confiante. Portanto é importante que cada educador verifique suas maiores necessidades e busque meios de solucioná-las, em favor do próprio aprimoramento e da evolução da sua prática educacional.