sexta-feira, 13 de maio de 2011

Prática e Teorias na Evangelização Espírita



Aliar a prática à teoria, nos meios educacionais, é um desafio enfrentado por muitos.
As teorias não são poucas, e parecem tão bem concatenadas nos livros onde as aprendemos,
que provavelmente (pensamos) não conseguimos aplicá-las por alguma falha nossa.
Dentro deste quadro, existem alguns pensamentos que gostaríamos de compartilhar com você.
Inicialmente, a respeito do valor de uma teoria, se o consideramos absoluto ou relativo.
Muitos dos educadores que conhecemos elegem uma teoria educacional porque parece ser a mais de acordo com as suas observações, ou a que melhor combina com seus traços de personalidade, e a elevam a uma espécie de altar de adoração. Tomam a sua concepção como perfeita, integrada, independente do fato de nem sempre corresponder às contingências da vida prática.
Nos casos concretos que insistem em não se encaixar, eles hão de sentir-se, com frequência, mais ou menos perdidos. Afinal, aquilo em que sempre acreditamos parece não ajudar todas as vezes que precisamos...
Que crença se oculta por trás deste pensamento, de que a prática vem em segundo plano, e deve(ria) se submeter às teorias? A crença no valor absoluto, inquestionável, do conhecimento teórico, o qual enrijece nosso raciocínio e dificulta, em vez de facilitar, nossa prática.
Vamos agora experimentar uma hipótese diferente: digamos que o valor de qualquer teoria, por melhor e mais bem construída que ela seja, não é absoluto, mas relativo.
Afinal, de onde vem uma teoria? Ela surge da prática de alguém que fez algumas experiências, observações e/ou descobertas, e publicou o seu resultado, na intenção de que fosse transmitida às outras pessoas.
Toda teoria é uma concepção humana, e todo ser humano tem sua limitação. Por isso, o valor de uma teoria é relativo às condições em que as descobertas foram feitas, à isenção moral do seu criador, à quantidade de informações às quais teve acesso, e a uma série de fatores que poderíamos enumerar, inclusive às suas crenças pessoais.
Não descartamos a importância das teorias em razão de sua relatividade, afinal, muitas delas realmente nos ajudam, mesmo, a entender fatos da vida. Aliás, qual a verdadeira razão de ser de uma boa teoria, senão o de dar suporte à prática que se quer iniciar?
Mas não se pode esquecer que, ao aproximar a teoria da nossa prática, também nós estamos fazendo experiências, observações e/ou descobertas que o autor talvez não tivesse possibilidade de fazer, por razões que não cabe analisar agora.
Fazemos descobertas a partir da nossa realidade, da nossa possibilidade de observação e ação, e também formulamos nossas teorias pessoais a partir do que vivemos. Um exemplo simples: depois de termos saído de casa às oito horas, durante alguns dias, e termos perdido o ônibus várias vezes, estabelecemos para nós que é preciso sair às cinco para as oito, se não queremos ficar sem condução.
Todos os seres humanos estão tirando conclusões a partir do que vivenciam, conclusões que utilizam para se orientar na vida. Onde estas teorias diferem daquelas a que nos referimos anteriosmente, é na importância e extensão do tema, e na aplicabilidade dos resultados no maior número possível de situações reais.
A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento moral da criança é bastante elucidativa, e funcional. Mas o conhecimento do Espiritismo nos permite entendê-la mais profundamente,como desenvolvimento do senso moral do Espírito, o que Piaget não podia ter feito, até porque, era ele materialista. Contudo, quando conhecemos as suas descobertas, compreendemos melhor não só a criança, como o ser humano e a evolução espiritual.
Qual será, então, nossa melhor escolha:
(1) canonizar Piaget e transformar em lei tudo o que ele disse;
(2) jogar fora porque ele não era espiritualista, e nós somos; ou
(3) como sugeriu Paulo de Tarso, reter tudo aquilo que nos seja útil e venha a contribuir para a melhoria de nossa prática educacional?
Qual parece ser a mais inteligente das alternativas?
O motivo de nos agarrarmos a esta ou aquela teoria costuma ser a insegurança. Sentimo-nos seguros para defender um ponto de vista próprio sobre como não perder nossos ônibus, mas, não, para desenvolver uma prática educacional adequada ao nosso grupo de alunos; não, para usar nossos conhecimentos e mesmo seguir nossas intuições. Que faz em geral o educador? Vai buscar segurança em uma teoria, em uma criação nascida na mente de outra pessoa que tem como qualificada para dizer como fazer. Ainda que, no dia a dia, acabe encontrando muito poucas oportunidades de aplicar cem por cento dos seus postulados teóricos...
Porém, não existe receita de como fazer, em matéria de Educação, porque cada criatura é única, tem seu jeito particular de aprender e entender a vida, e querer uma teoria de um indivíduo, que se aplique a bilhões de seres, é utopia.
Com respeito às teorias que tivemos oportunidade de conhecer, verificamos que todas têm alguma validade, e que, de certa forma, parecem completar-se, uma suprindo a fragilidade da outra.
Se confiamos em nossa capacidade íntima de selecionar e ajustar, à nossa prática diária, o conhecimento das teorias existentes que a ela podem se aplicar; se confiamos em nossa sensibilidade e discernimento, nosso trabalho ganhará, com certeza, em qualidade e profundidade, atingindo mais completamente os objetivos da Educação para o nosso grupo específico.
A vida nos surpreende, flui e se modifica, colocando desafios diários ao nosso intelecto e ao nosso coração. Se ignorarmos isto, não poderemos educar para a vida.




Rita Foelker
G.T.