Keila Lousada[1]
"É na adolescência que o espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era." (Livros dos Espíritos - questão 385).
Nos dias atuais, conviver com adolescentes nos lares ou nas instituições educacionais tem sido motivo de receio.
Esses jovens, recém-saídos da infância, são vistos como seres de outro mundo, perdidos, sem salvação.
Os pais os classificam como “aborrecentes” rebeldes, buscando nos consultórios especializados ou nas casas espíritas a explicação para esse jeito “jovem” de viver como se não existisse nada além deles mesmos, dos seus quartos, computadores, ou amigos...
Acham, ainda, que o fato deles se vestirem com cores escuras ou usarem cabelos longos e coloridos, fazem deles seres deploráveis e estranhos.
Muitos desrespeitam os filhos, com palavras duras e atitudes ásperas, obrigando estes a serem como seus pais querem, como se fossem destituídos de direitos, gostos, vontades, identidade...
Parece que esqueceram que suas funções são de educar, orientar, exemplificar e amar e, não apenas ordenar, ou ainda, massacrar e desorientar.
Enquanto isso, os educadores falam sobre eles com indiferença, até desgosto mesmo, como se a tarefa de auxiliar na educação moral que lhes cabe, não tivesse razão de ser.
Infelizmente, no meio espírita nem sempre vemos pais e educadores comprometidos com o futuro dos nossos adolescentes.
Ontem, foram crianças confiadas a nós, para que conduzíssemos ao caminho do bem, através das lições do Mestre Nazareno. Tivemos bastante tempo, talvez não utilizado a contento, para formar-lhes o caráter e minimizarmos as suas deficiências morais trazidas do passado.
Hoje, eles chegam à adolescência, mostrando-se tal qual de fato são, conforme dizem os Espíritos Superiores a Allan Kardec.
Observemos, porém: se fizemos um bom trabalho, dedicando-nos em apresentar-lhes o caminho reto, sob as diretrizes de Jesus, tenhamos a consciência tranquila, porque o que nos parece esconderijo nesta fase juvenil nada mais é do que momento de reencontro consigo mesmo, de descobertas, de autoconhecimento, de autoafirmação. Estejamos certos de que a semente do bem que plantamos no seu jovem coração, logo mais florescerá.
Caso, como pais, tenhamos nos perdido em cobraças apenas, deixando a tarefa que nos cabia para os outros, para a vida e para o tempo, não percebendo que aquele era o momento ideal de educar, recomecemos agora. Olhemos nossas crianças como Espíritos imortais, nossos irmãos em Deus.
Busquemos na prece a inspiração dos amigos espirituais para que nos situemos e nos orientemos ante os nossos compromissos como pais e como cidadãos do Universo, e iniciemos hoje a realizar a parte que nos cabe na Criação.
Ofertemos aos nossos jovens o coração amoroso, estendamos as mãos carinhosas e oportunizemo-nos diálogo fraterno e franco. Ouçamos as suas inquietações e questionamentos, que um dia já foram os nossos e, esforcemo-nos para compreendê-los e orientá-los, sem jamais violentar seus desejos e aspirações.
Como educadores, se antes não conseguimos penetrar, por medo ou comodismo, o mundo de nossos educandos, revisemos a nossa posição e percebamos que, com boa vontade e carinho, será possível participar deste momento especial da vida deles, como foi um dia o nosso.
Não esqueçamos, portanto, que já passamos por situações semelhantes às deles, e se tivéssemos tido a atenção devida e a colaboração necessária, muitas de nossas inquietações não precisariam tornar-se dores difíceis de acalmar.
[1] Registradora substituta, acadêmica de Pedagogia, expositora espírita, colaboradora da S. E. Kardecista/RG e do Setor de Exposição Doutrinária da FERGS. Contatos: keila.lousada@hotmail.com
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